O Quinto Poder
Por Ananda Oliveira
Não sei ao certo se esse filme é classificado como
biográfico, drama ou um “docudrama”, justamente por possuir um pouco de cada um
desses elementos.
A trama do filme é baseada em fatos reais em que Julian
Assange, criador do site Wikileaks, ficou internacionalmente conhecido por
revelar ao mundo, na íntegra, acontecimentos reais, editados e camuflados pela
grande mídia. Porém, o seu maior feito foi divulgar um vídeo em que soldados
americanos atiram em civis sem um real motivo ou ordem designada. Ele também
divulgou informantes de outros países que trabalhavam para os Estados Unidos,
entre outras coisas. O que no total soma mais de 90.000 arquivos sobre o que
acontece por baixo dos panos no governo dos Estados Unidos.
Como base para compor o roteiro, o filme usou os depoimentos
filmados do próprio Assange; os livros Os Bastidores do WikiLeaks, escrito pelo antigo parceiro
dele, Daniel Domscheit-Berg; WikiLeaks: A Guerra de Julian Assange Contra os
Segredos de Estado, de David Leigh e Luke Harding; e, claro, toda a
“romantização” necessária no mundo do cinema.
O filme mostra o ponto de vista de pessoas que trabalhavam
com Assange no Wikileaks. Sendo esta uma forma mais inteligente e dinâmica de
conseguir captar a atenção do espectador e fazer com que o mesmo se identifique
com o personagem de Daniel; o que é uma forma clássica de tratar de um tema que
gerou tanta polêmica. Porque seria muitíssimo mais complicado fazer o filme
baseado na versão do próprio Assange, por ser difícil de entender o que se
passa na cabeça dele.
Assange foi brilhantemente interpretado por Benedict
Cumberbatch. Este conseguiu capturar alguns trejeitos e até o próprio modo de
falar do jornalista, que contem pausas e muitos “ahm.... ”. Porém, diferente de
alguns atores que fazem filmes biográficos (ex: Jobbs), ele consegue utilizar
as características de Assange a seu favor, como se elas fossem o esqueleto do
personagem e todo o resto fosse o puro e simples trabalho do ator.
Daniel Brühl fez um trabalho impressionante como Daniel
Domscheit-Berg. Não só por também ser alemão, mas por possuir carisma que se
relaciona diretamente com o espectador e se estende por todo o filme.
O que mais me chamou atenção no filme foi a linguagem utilizada,
principalmente para descrever todas as centenas de colaboradores que o Wikileaks
possuía e, na verdade, eram centenas de e-mail criados por Assange. Essa cena é
representada da seguinte forma: uma sala infinita com mesas de escritório
enfileiradas, cada mesa possui pilhas de caixas para serem analisadas e uma
placa com o nome do colaborador. Em cima das mesas tem uma luminária de
escritório e o teto é o céu enevoado. Simplesmente maravilhoso aos olhos. E
este pequeno cenário, se tornara constante e sofrerá modificações no decorrer da
história, o que é brilhante e incrivelmente belo de se assistir.
Outras cenas interessantes são os vídeos de depoimentos de
Assange para mídia serem refilmados pela equipe com o mesmo texto, e locações
diferentes. O que tem de documental nessas cenas é o texto, ou seja, as
palavras ditas por Assange; e a dramatização são os atores presentes, locação,
câmeras e por ai vai.
Embora o filme seja biográfico, ele possui uma linguagem
didática que é capaz de conquistar a atenção e o gosto do espectador.
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