segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

E Seu Nome é Jonas



Por Julio Sonsol



O filme, de 1979, tem como protagonista uma criança, Jonas, que foi equivocadamente diagnosticado como portador de retardo mental. Na realidade ele é surdo, mas por conta do diagnóstico, foi internado em um hospital de saúde mental. A mãe, ao saber do engano, sentiu-se culpada e procurou uma terapia adequada. Ao mesmo tempo, aceitou a tarefa de trazer novamente a criança ao seu convívio, e se esforçar para corrigir os equívocos identificados em sua educação. 

A criança, diante do atraso de sua socialização, já que se distanciou por anos de sua família, internado em hospital, mostra comportamentos inadequados ao que seria esperado de uma criança normalmente socializada, junto aos seus familiares. A simples rejeição de ervilhas durante a refeição torna-se muito problemática, causando discussões entre os pais. O pai demonstra uma certa vergonha, pela condição do filho, e isso causa uma profunda desarmonia entre o casal. Até o tamanho do aparelho de surdez fornecido pelo instituto dos surdos é causa de briga. 

Jonas também entra em constantes atritos com o irmão, Antony. A criança surda segue fechada em seu mundo, já que a comunicação é praticamente impossível, porque ele não consegue conviver com o mundo de sons. A cobrança pela oralidade é cruel. Ele chega a ser abominado até em jogo de basebol pela sua condição. O mundo em sua volta se mostra hostil diante da sua deficiência. Jonas é forçado a técnicas hoje consideradas ultrapassadas, como proibir língua de sinais, para “facilitar” a leitura labial e a fala.

Tudo isso gera um grande desconforto no protagonista, que se demonstra insatisfeito ao que lhe está sendo imposto. Vale destacar que o filme foi produzido em 1979, quando a visão que o mundo tinha sobre a surdez era muito mais permeada de preconceitos do que hoje. Até a presença de Jonas em um jogo de basebol era considerada quase uma afronta por outras pessoas. Um quase incapaz na visão das pessoas. Esse preconceito de outras pessoas faz com que o pai se desentenda com os próprios amigos. A rejeição é absolutamente traumática para pai e filho.

Em um momento de grande estresse, o pai de Jonas fala que prefere que o seu filho vá se internar em um ambiente “próprio” para surdos, a ter que conviver para sempre com o garoto e a sua deficiência auditiva. Uma cena que antecede esse desfecho, mostra Jonas sendo castigado porque estava atirando comida do seu prato ao chão. A mãe tenta intervir em favor do filho, observando que a criança não tem condições de entender o que o pai fala, mas este, no entanto, fica irredutível. A crise fica estabelecida no seio familiar e vai se aprofundando até a separação do casal. 

As desavenças com a vizinhança também são claramente denunciadas pelo filme. A tentativa de fazer a criança andar de bicicleta na rua se transforma em uma nova crise, após ele ser quase atropelado por um veículo, já que não conseguia ouvir as buzinas. A culpa pelo incidente, na visão dos circunstantes, era de Jonas. “À criança surda não poderia ser dado o direito de pedalar em sua bicicleta.

A mãe, após se separar do marido, continua no seu esforço de dar ao seu filho o direito de levar uma vida normal. Assim, ela se aproxima de outras famílias que também possuem um de seus membros surdos, para trocar experiências. Jonas continua demonstrando desinteresse em se oralizar. Definitivamente, ele não aceita os exercícios que lhe são impostos. Em desarmonia com o meio, até foge de casa. Sua mãe o encontra em um hospital amarrado, como se sofresse de distúrbio mental. A resistência de Jonas às imposições do mundo oralizado era vista como algo a ser combatido violentamente.


O cenário só começa a mudar quando a mãe de Jonas casualmente encontra-se com pessoas que se comunicam através da língua de sinais. Ela aceita o convite de participar de uma reunião do Clube do Surdos e percebe que esse grupo é formado de pessoas tão diversas quanto qualquer outro grupo social. Jonas, a partir daí, começa a ser educado em uma língua de sinais e consegue adaptar-se aos seus convivas, como ainda não tinha conseguido antes. O mundo passou a ter novos significados, ao perceber que a comunicação através da língua de sinais supre completamente as lacunas deixadas pela falta de oralidade.

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